23/09/09

.
.
.
Aportados em tão extrema manhã ao que vínhamos
bem nós sabíamos. Mas ao que estávamos, só quem via
aquele azul como nós, que religiosamente o calávamos
como coisa rara, coisa de impossível dizer, só quem via
nossa busca em seu intrépido fulgor, poderia perceber

tanto e tanto ardor. Aportados naquela manhã, na ponta
norte, de onde as costas da Lacónia nos apareciam
como um leve traço antes do céu, logo ali desocultámos
desse admirável princípio seu estranho véu. E com o teu
braço sobre os meus ombros, por entre sumagres, faias

e avelaneiras, adentrei-me naquela ilha, que por nossa
se desenhava. Ilha para lá do vazio, da felicidade imitada,
dos escombros: terra finalmente alcançada com o teu
braço sobre os meus ombros. Nenhum mal a poderia
já extinguir como marco nunca havido, nem a persistente

fragrância a si própria acrescentada de sémen e saliva
- de nós húmidos rastros - no abandono dos cômoros, nem
tão-pouco as terríveis perdas, que nas cidades fervilham
em correria inóspita e vã, parecer por nós recusado
quando à ilha havíamos chegado naquela extrema manhã.



Mateus, Victor Oliveira. A Irresistível Voz de Ionatos. Fafe: Editora Labirinto, 2009, p 10.
.
.
.