23/09/09

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Sempre que a mim regressas indefeso te recebo e, sem temor
ou artifício, indefeso me dissipo na tentação por nós
arquitectada. Mas há tentações assim... Que nos devoram.
Que nos devoram e limpam da ferocidade diária,
dos mitos que nos apregoam mas não compramos,

porque tentação mais vil do que a nossa. Sempre que a mim
regressas - qual rosa ou vala ou ferida aberta - uma maré
de alegria me retoma, me submerge e apequena sem eu saber
como nem porquê. Grande é a vizinhança entre os instantes
das tuas vindas e a eternidade que nelas inscrevemos.

Grande a felicidade se acaso te demoras e eu, para além
das armadilhas da noite, para além do estampido das ondas
contra as rochas, dos estalidos do soalho sob os nossos
pés nus, do arquejar dos nossos corpos já saciados, esqueço
a minha boca colada à tua pele, como jóia cintilante a prender
o manto da mais bela rainha do Mediterrâneo.


Mateus, Victor Oliveira. A Irresistível Voz de Ionatos. Fafe: Editora Labirinto, 2009, p 17.
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