04/09/09

.
.
.
Lava a minha suja memória neste rio de lama.
Com a ponta da tua língua limpa-me por todos os lados.
E não deixes o mínimo vestígio de tudo quanto me prende e cansa.
Ah, caça! Persegue-a em mim, pois só em mim ela vive!
E quando a tiveres sob a alçada do teu fuzil
não escutes as suas súplicas.
Tu bem sabes que ela deve morrer - uma segunda morte.
Então, mata-a! Uma vez mais...
Chora! Também eu, antes de ti, já o fiz,
mas foi em vão.
E quão belos são os soluços inundando as almofadas!
Eu tentei, tentei mas tenho o coração seco e os olhos inchados
(tenho o coração seco e os olhos inchados...)
Então queima! Queima o momento em que te envolves no meu grande leito de gelo,
este leito que, como uma banquisa, se derrete se acaso me abraças.
Nada é mais triste. Nada é mais grave
se tenho o teu corpo como uma torrente de lava.
A minha suja memória neste rio de lama
lava! Lava a minha memória suja
neste rio de lama - Lava!

Alex Beaupain In "Les chansons d'amour" de Christophe
Honoré (tradução de Victor Oliveira Mateus).
.
.
.