05/04/10

"para os verter na palavra. em mil sentidos."

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"Poema 2 "

vários trilhos pelos passos construídos
fazem os lobos.

rasteiros
rente a desertos, à terra
domam o tacto à proximidade do solo.
a passagem é ligeira no horizonte:
matilha, mais que altiva, comprimida.

sisudos
solitários da montanha
são os olhos das pedras e do tempo
inesperados vultos dorsos ocultos
por raízes sarças e arbustos

guerreiros
os senhores da floresta
e do arco dos seus saltos em flecha
guardam clareiras e matas sombrias claras
entre garras dentes e o faro estridente.

vadios
são ladrões de quintais
e casas ciosas dos temperos.
lambem-se enquanto esperam para desfrutar
e desfrutam quando são os menos esperados.

urbanos
os visitadores de lixos
aprumam-se na arte do escutar
antes de se aproximarem com sacos
antes de abençoar o esbanjamento.

poetas, há,
lobos e lobas
os também mestres da natureza viva:
de olhar doce toque cativante
escutam, cheiram e lambem os sabores todos
para os verter na palavra. em mil sentidos.

Maria Toscano in "os lobos", Grácio Editor, Coimbra, 2010, pp 10 - 11.
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