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"Poema 2 "
vários trilhos pelos passos construídos
fazem os lobos.
rasteiros
rente a desertos, à terra
domam o tacto à proximidade do solo.
a passagem é ligeira no horizonte:
matilha, mais que altiva, comprimida.
sisudos
solitários da montanha
são os olhos das pedras e do tempo
inesperados vultos dorsos ocultos
por raízes sarças e arbustos
guerreiros
os senhores da floresta
e do arco dos seus saltos em flecha
guardam clareiras e matas sombrias claras
entre garras dentes e o faro estridente.
vadios
são ladrões de quintais
e casas ciosas dos temperos.
lambem-se enquanto esperam para desfrutar
e desfrutam quando são os menos esperados.
urbanos
os visitadores de lixos
aprumam-se na arte do escutar
antes de se aproximarem com sacos
antes de abençoar o esbanjamento.
poetas, há,
lobos e lobas
os também mestres da natureza viva:
de olhar doce toque cativante
escutam, cheiram e lambem os sabores todos
para os verter na palavra. em mil sentidos.
Maria Toscano in "os lobos", Grácio Editor, Coimbra, 2010, pp 10 - 11.
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