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" Desabitada presença "
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Na foto ela está sorridente. Ar inocente,
conseguido. Ele também, triunfante e
pose a condizer, embora presa de presa,
mas sem o saber. Outros iguais nas mesas
vizinhas - esperam a hora para descer
aos bares. Pelo tamanho e pela feiura
reconheço o local - a Piazza Vittorio. Sempre
a detestei! Reconheço até a esplanada,
que constantemente evitava quando ia para aqueles
lados. Na foto lá estão os toldos branco-
-sujo a cobrir as mesas, as cervejas, os sorrisos.
A um traseunte foi-lhe roubado o espanto,
fixado naquele pedaço de papel sem brilho.
Debruço-me para dentro da foto, mas não
me vejo. Contudo, tenho a certeza que estou
ali - certeza inquestionável, sem dissimulação
nem álibi. Talvez esteja no interior de um carro,
à porta do café, na inquietação de um qualquer
pensamento. Mas não, não me vejo! No entanto
- e repito - tenho a certeza que estou naquela
foto, que reproduz um encontro a que não fui.
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Victor Oliveira Mateus in "Regresso", Editora Labirinto, Fafe, 2010, p 15.