08/10/12

De um texto anónimo do século XIX.



(...) mas quando, e onde se terá visto, que por evitar um perigo duvidoso, ou imaginário, se recorra a uma ruína certa e real? Pode-se assegurar, que Portugal, por evitar a sua perda, se perdeu miseràvelmente, pois os Ingleses, com pretexto de proteger aquele reino, o privaram, e privam do seu comércio, e da sua indústria, tiraram-lhe, e tiram as suas riquezas, destruiram-lhe, e destroem-lhe os seus exércitos, e aniquilaram-lhe, e aniquilam a sua marinha. Que maiores males lhes poderia fazer o inimigo? Ainda que Portugal tivesse tornado a entrar em poder da Espanha, teria perdido tanto o seu estado-político?
Quando um governo se apodera das riquezas de outro, tendo-o na mais absoluta dependência das coisas fisicamente necessárias, não sòmente perde quanto se tem insinuado, mas também a liberdade civil, que só existe no nome; e assim pois teria sido melhor para Portugal tê-lo qualquer potência conquistado com as armas, porque neste caso só teria pensado nos meios de romper, e libertar-se das cadeias, em vez que no outro não faz mais que arrastá-las, e suportar o seu peso com paciência.
Está cheia a história de nações que sacudiram o jugo dos que a conquistaram à força das armas; mas quase nunca se viu sair uma nação daquela espécie de escravidão em que a pôs outra destruindo as suas artes e o seu comércio, porque tendo-lhe tirado as suas riquezas lhe cortou o nervo do seu poder civil, e político.

  Castro, Armando. A Dominação Inglesa em Portugal com 3 textos do séc. XIX em antologia. Porto: Edições Afrontamento, 1974, pp 69 - 70.

Nota - foi mantida a grafia da edição.
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