18/02/13
("Poema XXIV" do Ciclo A Semana Santa )
Minha pátria onde existe?
É lá somente!
Oh, lembrança da Pátria acabrunhada
Um suspiro também tu me hás pedido;
Um suspiro arrancado aos seios d'alma
Pelo ofuscada glória, e pelos crimes
Dos homens que ora são, e pelo opróbrio
Da mais ilustre das nações da Terra!
A minha triste pátria era tão bela,
E forte, e virtuosa!, e ora o guerreiro
E o sábio e o homem bom acolá dormem,
Acolá, nos sepulcros esquecidos,
Que a seus netos infames contam
Da antiga honra e pudor e eternos feitos.
O escravo português agrilhoado
Carcomir-se lhes deixa junto às lousas
Os decepados troncos desse arbusto,
Por mãos deles plantado à liberdade,
E por tiranos derribado em breve.
Quando pátrias virtudes se acabaram,
Como um sonho da infância!...
O vil escravo,
Imerso em vícios, em bruteza e infâmia,
Não erguerá os macerados olhos
Para esses troncos, que destroem vermes
Sobre as cinzas de heróis, 3, aceso em pejo,
Não surgirá jamais? Não há na Terra
Coração português que mande um brado
De maldição atroz, que vá cravar-se
Na vigília e no sono dos tiranos,
E envenenar-lhes o prazer por noites
De vil prostituição, e em seus banquetes
De embriaguez lançar fel e amarguras?
Não! Bem como um cadáver já corrupto,
A Nação se dissolve: e em seu letargo
O povo, envolto na miséria, dorme.
Herculano, Alexandre. A Harpa do Crente. Mem Martins: Pub. Europa-América, 2ª Edição, p 42.
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