27/02/13

"(...) o seu principal mérito encontra-se na frescura que o autor proporciona..."



   Embora o Realismo encontre o seu modo de expressão adequado no género narrativo, o impulso lírico que Antero de Quental deu à nova consciência artística (...) tornou possível que os poetas pudessem optar por uma expressão realista não necessariamente em confronto com o lirismo. É preciso referir, no entanto, que a maior parte destes autores não foram capazes de proporcionar qualquer plasticidade às suas produções caracterizadas pela rigidez e pelo prosaísmo.
   Entre estes poetas realistas, João de Deus talvez seja o mais reconhecido em Portugal, mais pela sua aproximação ao estilo e temáticas populares do que propriamente pelos sucessos literários. Na realidade, estamos perante uma espécie de autor vagabundo cujo estilo deixa transparecer todos os defeitos e virtudes inerentes à língua popular. As suas composições ingénuas, repassadas de tradicionalismo católico, tratam sobretudo do tema amoroso e satírico e o seu principal mérito encontra-se na frescura que o autor proporciona ao panorama de fria retórica pós-romântica.
 
 
  Iáñez, E. História da Literatura Vol. 7: o século XIX Realismo e Pós-Romantismo. Lisboa: Planeta Editora, 1997, p 328.
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