26/09/13
" Poema 22. "
Tudo é possível no balcão dos sonhos.
Podes vir de mansinho, com outro rosto,
e eu, sem nada me pesar, dizer - Há muito
espero por ti, Dirk - e a bandeja na mão,
a bandeja do Rick que passou a ser tua,
e o piano vermelho a flutuar naquela rua
de Veneza. Não, não era um canal, era
uma rua, ou talvez não fosse Veneza
e o teu sorriso dorido de café e gin
igualzinho ao do Dirk porque, eu sei,
também o teu estava a sofrer. Há um
tempo assim de tudo doer, e digo mesmo
tudo, a bandeja, o piano, a rua, a cidade
inteira. É uma dor informe. Talvez a vida
seja isso, um tempo de doer e fugir para
o balcão dos sonhos a preto e branco.
Há quem diga que são a cores os sonhos
das pessoas tristes. Há quem fale de uma luz
que faz vermelhos os pianos que flutuam.
Quanto a mim, fico à tua espera, Dirk.
Podes estar em Lisboa ou em Casablanca,
podes até não vir. Sei o sonho de cor.
Quitério, Licínia. Os Sítios. S/c. : Ed. Autor, 2012, pp 33 - 34.
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