" A Ilha de Jade"
1.
De céu a céu
contempla em chamas verdes
desertos de água.
2.
Apagam sóis
veredas que a cinza cerca
nas dobras do coração.
3.
De 'strelas coroada
enfíngica repousa a noite
no fundo dos vulcões.
4.
Amanhecidas brumas
esbatem pelos cumes a emurchecida
flor do mal.
5.
No dedo frágil os-
tentam o ardor que o jade esfria
à sombra do jasmim.
6.
Aromáticos, nocturnos,
em suas camisas de ramagens esperam
cair de novo em tentação.
7.
Contra a nudez
do bosque enfermam então perdidas
luas, de mel.
8.
Esborratam cerros
de água, as cabras que o vento
em lava afixou.
9.
Ao mar atidos
como lobos fisgam a morte:
o lanço com cautela.
10.
Escalando escostas
descem à terra, provam da ira
o oiro dos vinhedos.
11.
Enamoradas virgens
entre heras, com fraguedo nu,
se deitam as ribeiras.
12.
Do vale aos cimos,
acordam a luz que a mão bordou
na fímbria das marés.
13.
Silvam nos renques,
voam, imóveis como o funcho,
à sombra do penhasco.
14.
Decapitados pela sede,
no copo vencem a medo tormentas
e naufrágios.
15.
Criou Deus então
a ilha, e o nácar lhe deu corpo
de navio, e de mulher.
Vergílio Alberto Vieira In "O Voo Da Serpente",
Campo das Letras, Porto, 2001, pp 33-47.
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