Nova Zelândia, foto de Juan Carlos Muñoz
Esperança minha, is-vos:
nam sei se vos verei mais,
pois tam triste me leixais.
Noutro tempo ua partida,
qu'eu nam quisera fazer,
me magoou minha vida
quanto eu nela viver.
Desta já quê posso crer:
que, pois qu'assi me leixais,
é pera nam tornar mais.
Após tamanha mudança
ou desaventura minha,
onde vos m'is, esperança,
vá-se todo o mais qu'eu tinha.
Perca-s'assi tam-nasinha
tudo, pois que nam olhais
quam tarde e mal me leixais.
Bernardim Ribeiro In "Cancioneiro de Garcia de Resende", V, 272-3.
(Nota - magoou - o termo está aqui próximo do seu sentido originário
- MACULARE -, imprimir nódoa, deixar um sinal; já quê - alguma
coisa, isto; tam-nasinha - tão depressa. O n resultaria de um desdobramento
da nasal ou de uma assimilação: tan d'asinha, a melhor forma seria talvez
tãnasinha).
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