22/02/09




O caule épico do agapanto
ergue-se desmedido do púbis de espadas
até à umbela de grinaldas na glande
que o coroa majestático e trágico.

Não o visita já o vento, não o estiola,
ninguém mais o dobra, nem a resolução
depois
de quebrados os vasos.

Imperturbável como um deus entre deuses
com ninguém copula
porque lhe colheram o ápice quando tentou
falar, votando-o a uma castidade sem igual,
mudo e sem memória.

É alto e triste e só,
apesar de sexual, belo mas inútil
porque ocupa o seu embotado reino
vizinho de ângulos e vértices e pontas,
demarcado por fragmentos e vidros e ferros.

Reina rombo sobre quem
não rompe:
sobre quem agulhas toldam e deprimem
com sua sombra incisiva.

Daniel Jonas In "Os Fantasmas Inquilinos", Edições Cotovia,
Lisboa, 2005, p 47.
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