07/03/10

"aonde as claridades nascem pretas"

.
"Lisboa"

esta é a cidade fantasma dos poetas
das portas negras onduladas
aonde as claridades nascem pretas
e as liberdades envidraçadas

esta é a cidade onde e donde
chegam e partem navios
e espreitam gatos pretos de olhos pretos
castrados frios

esta é a célebre cidade capital
e colchão de nosso nome
onde acordado
se ressona medo do medo natural

esta é a cidade onde cadáveres
dão vivas a cadáveres pelas ruas

Eduardo Olímpio in "Como Quem Leva ao Ombro a Vida Toda",
Editorial Caminho, Lisboa, 1986, 71.
.