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"Esperança, Adeus!"
Descobri, numa esquina, o Encoberto.
Disse-me: "Sou Sebastião I,
Real e verdadeiro.
Mas com destino incerto.
Não venho de nenhum sepulcro aberto:
Venho do nevoeiro.
Perdi-me, derradeiro cavaleiro,
Nu, nas areias do deserto.
Estendo a mão à esmola do meu povo:
Que me dê coração, activo e novo.
Venho das trevas para ser amado."
Mostrei-lhe almas vazias:
- É o que resta de nós, na agonia dos dias,
Ó meu rei concebido sem pecado!
António Manuel Couto Viana in "Ainda Não", Averno, Lisboa, 2010, p 43.
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