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"Soneto Dominical"
Já não me aflige mais a pasmaceira
do domingo. Meus filhos mundo afora
e eu em casa pensando. A vida inteira
ensina-me a ser só. Não é agora
que eu hei-de reclamar. Segunda-feira
há-de chegar. Há-de chegar a hora
em que se apague a chama derradeira;
em que a vida me diga: vá-se embora.
Tudo tão natural. A árvore morta
já não abriga pássaros nos ramos
que, pouco a pouco, vão caindo ao chão.
Amei mal as mulheres. Mais amamos
nós mesmos, nosso ofício. Pouco importa
a vida; este domingo; a solidão.
Ildásio Tavares in "As Flores do Caos", Editora Labirinto, Fafe, 2009, p 31.
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