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" Poema"
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Sou o parvo extravagante e solitário,
E sou o beco sem saída.
Tenho enredos e dramas na minha Vida
De céu vário.
Padeço todos os dias
De minhas exóticas melancolias
(Mas rio-me delas...).
Chamam-me: o pescador de Estrelas,
O dos vícios inéditos e singulares...
Mas eu sei que sou
Um almirante sem caravelas e sem mares;
Tenho a certeza que é isto que sou!
A minha Fantasia desregrada
É o alcoólico delírio
E o constante martírio
Que faz com que eu seja tudo, não sendo nada!
Enlodo-me
E remordo-me
Quando sinto em mim a luz de talvez Deus
(Uma luz que me atira fora de mim
Para espasmos, e apertões, e cambalhotas.)
Nesses momentos encho os Céus
C'o a minh'alma dilatada pela febre sem fim!,
-E nas ruas fecham-se-me as portas,
E eu 'screvo poemas sem ritmo nem rima!...
Depois, a pouco e pouco adormece-me a Vida
Sobre um enxergão imundo;
Minh'alma comprime-se, entra dentro de mim, novamente,
E dorme um sono profundo,
Tranquilamente...
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- Por isso a minha vida
É um beco sem saída!
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Ninguém compreenderá o que escrevo neste poema sincero,
Talvez por ele ser demasiado sincero!
Vão-me achar, com certeza, muito temerário
No que toca a metro e a versificação.
Deixai!: eu sou o Incompreendido, o Solitário,
O Triste, o Erva, o Bobo, o Alto, o Louco,
Que sonha muito e bem, e canta mal e pouco,
E tem ternuras de andorinha e fúrias de leão!
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- Por isso a minha vida
É um beco sem saída!
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Cristovam Pavia in "Poesia", Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2000, pp 123 - 124.
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