25/12/10

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   "Balada de Ismália"


Quando Ismália alucinou,
pôs-se na sacada a olhar...
Viu os aviões em vôo,
do alto do décimo andar.

Na bad trip em que embarcou,
quis, ela também, voar.
Tirou a roupa, gritou,
sentiu-se livre afinal...

Olhando a lua, sonhou
com outra vida, outro lar,
e no vazio se atirou,
cantando "Lucy in the sky"...

Como um anjo, ou um elfo, ou
uma fada sublunar,
por um momento pairou,
livre de amarras, no ar...

Sua alma, alada, zarpou
num vôo interestelar...
Seu corpo se estatelou,
grave e prosaico demais.

Marco Catalão in "O Cânone Acidental", É Realizações Editora, São Paulo, 2009, p 39.
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