01/04/11


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"As rendas" ( 1º poema do ciclo Dom São Sebastião)


Todo o meu apelo vai nas ondas
E pelas ondas vem a tua voz chamar-me
À praia do Tamariz
Se quebram leves rendas à roda do pescoço
Beijam-te o rosto de flor de lis.
É tão grande o desejo como o mar.
O Atlântico atrai para o deserto
Onde sem lápide hás de jazer reinando
Per saecula saeculorum
Sem Amen na prece a rematar.
Santo, eu, per saecula saeculorum
Ficarei rezando. Amo-te, Sebastião,
Ó flor imarcescível!
Meu cavaleiro da noite, meu lençol de esperma
Coalhado, em que estrelas choram por seres tão casto.
Olha que mais rebelde à morte, mais que tu, rei herói,
Sou eu, Sebastião, que não fui rei nem casto
Mas que sou soldado, gay e corajoso mártir.

  Maria Estela Guedes in "Geisers", incomunidade, s/c., 2009, p 15.
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