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"Mapa de desencontros"
Vez por outra, intentava uma máscara menos íntima,
invadia a rua como quem entra num cenário de guerra
e tu eras o espelho indiscreto que mostrava o meu rosto
semeado de marcas cinzeladas por um vendaval
qualquer. Mais tarde, haveria de me dar conta
desse mapa de naufrágios, desse roteiro de gestos
sem causa. E eram tristes os relatórios dessas incursões
no caos. Memórias para esquecer.
Os caminhos, hoje, estão libertos de heroísmos
de opereta, os meus passos vestem-se de nuvens
baixas e até os homens mais antigos
circulam em redor das próprias sombras.
Fecham-se as portas, as manhãs ondulam sozinhas
e estas palavras são a última possibilidade
que o silêncio me concede.
Fernando de Castro Branco in "Estrelas Mínimas", Editora Labirinto, Fafe, 2008, p 61.
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