07/04/11


"Mary Renault a Julie Mullard"


Tantos anos passados,
e o meu olhar vagueando também
pelas cidades muradas.
Os meus olhos vagabundos,
as minhas cidades amuralhadas,
os teus olhos impenetráveis.

Lá, ao distante dos começos,
aqui tão perto de esplendorosas
manifestações de afecto,
mas separadas à mesa das refeições,
porque tu degustas o tempo
como a mim desgostam as horas,
porque tu intentas contra as horas
como a mim oprime o tempo.

Tudo o que te peço neste Outono
grávido de geometrias cintilantes
é que quebres o anonimato do teu nome,
que me tragas aos lábios
o teu nome mais secreto,
que me abrases pelo caminho
agourado das sugestões.

Espero.
Espero sempre pelos teus olhos
esplendorosamente impenetráveis.
Não que afastes desta confissão
as geometrias cintilantes,
não que distes os adereços.
Apenas que ponhas a voz nos adereços,
apenas que ponhas a voz na voz dos adereços,
para que desse modo sejas toda tu
na ilusão com que te espero.

 Henrique Manuel Bento Fialho in "A Dança das Feridas", Edição do autor, s/c., 2011, pp 44 - 45.
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