17/04/11

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" Poema 3 da Parte 1 do livro intitulada Meio Caminho"



( sob as arcadas do bloco de prédios
o bando de rapazes suburbanos que vive à margem
da ordem social olhava-me de lado
como se eu não pertencesse àquele bairro)

Quando metia a chave à porta
e entrava em casa sentia-me a entrar
num espaço abandonado

não havia ninguém à espera

por vezes pensava que ainda me fazias falta
sem que houvesse alguma verdade nesse exercício
de reconstituição tinha medo do vazio
dos lugares residuais quando se tornou inevitável
a modesta transição para um silêncio definitivo
os compartimentos onde guardávamos
o amor-próprio eram demasiado exíguos
e nós havíamo-los preenchido com matérias ígneas

eu disse
  Não quero viver junto ao mar

porque me assustava
ao pé de ti toda aquela massa de água em confronto
submergindo as certezas adquiridas
e uma vida planeada ao pormenor nesta casa a cama rangia
viver no quinto andar de um prédio dos subúrbios
velho e sujo e contíguo ao terminal ferroviário
trazia alguns inconvenientes queria dormir
vencer o cansaço a cama rangia só depois das quatro
da manhã havia algum silêncio de tempos a tempos
passava um comboio de mercadorias tardio
e os vizinhos de baixo discutiam com frequência

Paulo Tavares in "Linhas de Hartmann", &etc., Lisboa, 2011, pp 12 - 14.
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(Nota: o meu P.C. não assume os parêntesis rectos da primeira estrofe - tal como está na
obra -, daí ter sentido a necessidade de os substituir por curvos. Essa solução, com uma nota
explicatica, pareceu-me preferível a ter de esconder os textos, de qualquer modo se o
Paulo discordar os poemas serão removidos.)
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