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XXXV
dois homens brincavam como se fossem crianças . O primeiro
fazia castelos na areia, o segundo fazia castelos no ar. O primeiro
dizia: a areia é o material do meu jogo , e sujava-se plantando
os dedos como retroescavadoras, enquanto fazia "vruum-vrrum".
O segundo olhava o ar e dizia: o silêncio é o material do meu
jogo, enquanto inspirava carregando-se da mesma brisa com
que enchia as altas torres.
Cada um era uma criança à sua maneira. Ambos foram constru-
indo incríveis castelos com princesas e dragões lá dentro.
O primeiro homem quis entrar no castelo de areia, mas não podia,
por ser muito grande e pesado, e se o fizesse, ao primeiro passo
que desse, acabaria por o esmagar, já que era , na verdade , um
enorme gigante . O segundo homem queria entrar no castelo
imaginado suspenso no ar, bem por cima das nuvens , mas como
era muito pequenino - como o polegarzinho - não conseguia chegar
sequer à fechadura do portão de entrada.
Os dois adultos decidiram, então, brincar ainda mais , e , por isso,
resolveram construir juntos um castelo , só que agora feito com
uma metade de ar e outra de areia . No fim , o castelo era do
tamanho preciso e correcto e , desta forma , puderam realmente
brincar, ao entrarem para salvar a princesa , com espadas de
fogo e unicórnios voadores, mas isso já é outra história.
Carlos Vaz In "o estrangulador de bonecos de neve", Editora Labirinto,
Fafe, 2009, pp 49-50.
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