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" O canibal"
Tenho, defronte, uma vizinha loura,
Cuja carne alva, fina, e cetinosa,
Faz lembrar, quando à tarde o sol descora,
A cor humana pálida da rosa.
Não é frágil, nem débil, vaporosa,
Como as virgens mortais que a luz não doura...
Antes é forte, esbelta, a voz sonora,
- Tranquila e altivamente majestosa.
Nasceu formada assim para os amores:
E o modo com que rega as suas flores,
Na varanda, a sorrir, não tem rival...
Ao vê-la, os D. Juans baixam a fala.
- Mas quanto a mim... quisera "devorá-la"
Com a fome imbecil dum canibal.
Gomes Leal In "Claridades do Sul, Assírio & Alvim,
Lisboa, 1998, p 282.
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