21/09/10

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ESTÁS PARA ALÉM
de ti,
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para além de ti
está o teu destino,
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de olhos brancos, fugido a
um cântico, algo se aproxima dele,
que ajuda
a arrancar a língua,
também ao meio-dia, lá fora.
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PROJECTADO
na via de esmeralda,
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buraco de larva, buraco de estrela, com todas
as quilhas
procuro-te,
Sem-fundo.
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TODAS AS FORMAS DO SONO, cristalinas,
que assumiste
na sombra da linguagem,
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a elas
conduzo eu o meu sangue,
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os versos de imagens, a esses
vou albergá-los
nas veias cortadas
do meu conhecimento -
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o meu luto, bem vejo,
corre para ti.
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A MIM que me afogo
atiras-me com ouro:
talvez um peixe
se deixe subornar.
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PEQUENA NOITE: quando me
levares, levares
lá para cima,
três palmos de sofrimento sobre
o solo:
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todos os casacos mortuários de areia,
todos os inúteis,
tudo o que por lá ainda
ri
com a língua -
(...)
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Paul Celan in "Sete Rosas Mais Tarde - Antologia Poética", Edições Cotovia, Lisboa,
1996, pp 175 - 177 ( Tradução de Yvette K. Centeno e João Barrento).
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Nota: o texto acima transcrito é um excerto de um dos últimos livros de Paul Celan: "A Cerca do Tempo".
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