22/07/12

"(...) abominável/ objecto de vaidades múltiplas, imagem negra... "

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  " Excerto da secção I do poema A Viagem "
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Será este, o meu porto seguro?... Teria que encontrar-te
de novo, oh musa perdida, tu que comigo ao agro
foste escutar, a fresca erva crescendo...

A verde planície, sua ausência de espelhos, abominável
objecto de vaidades múltiplas, imagem negra, no pós
Outono da vida, rugas no coração... homens na
plástica, olhos rasgados orbitando sem brilho, e a
morte que nunca avisa, quando vem jantar...

Bandeiras, estandartes, suásticas, soldados, guerreiros
marchando, gritam ao tirano: ( Ave César!...
morituri te salutant ) ... bestas teleguiados, colocando
ovos no útero do Mundo, selvas ardendo, mães sem
sorriso, águias apunhaladas no voo do poeta...

Mas o poeta, igual ao pássaro, que renasce das cinzas,
inventa palavras, iluminam-se livros, estes templos
sagrados de divina sabedoria...

Mãos ardendo, fogo na aurora, nasce a palavra,
longos dias, eternas noites... sussurrando, pergunto:
São verdes, os teus olhos, ou, são azuis, como a fina
linha do mar, que vem dar à costa, dos meus sonhos?...

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  Figueira, Tchalé. A Viagem ( Poemas ). Mindelo, Cabo Verde: Ed. do autor, 2012, pp 12 - 13.
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