23/07/12

"(...) em seus círculos de caça,/ para depois deixar tudo e partir,/(...) rumo a nenhum lado, "

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  " O Tempo Imediato "

Este céu onde as nuvens vão passando
e são veleiros brancos que suscitam
a antiga paz nas ondas, rumo a praias
distantes de qualquer sinal urbano,
e a lembrança de amar a Terra a dois,
os rebanhos, as árvores na crista
da serra ao vento, as duas águias lá
no alto céu, em seus círculos de caça,
para depois deixar tudo e partir,
galgando a estrada, rumo a nenhum lado,
sem guardar a ilusão de que o futuro
seja algo mais que o tempo imediato,
e o tempo imediato é quanto resta,
dia por dia, um dia a seguir a outro,
o carro pela noite durante horas,
o volante, as mudanças, os pedais
que fazem uma vida limitada
consumir-se, incolor, dura e a gasóleo.

  Dempster, Nuno. Elegias de Cronos. Lisboa: Ed. Artefacto, 2012, p 16.
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