" Soneto desviado "
Soletrava ela ou ele - não importa,
Pois nestas coisas do amor, o género
É puro detalhe -, na retina da solidão
Retirada do fino mel de mim.
E dizia, a cada momento, sua sentença
De ficar ou de partir e a viagem,
A mais dolorosa, diga-se, nesta nau
Onde são outros os azimutes de pertença.
Também outros, que não eu, caídos
À terra vermelha das coisas paradas,
Ajoelharão antes os deuses de esquina.
E saberão ( dele ou dela ) essa coisa louca,
Uma vontade de voo no improvável,
Que em mim lateja como um soneto...
Elísio, Filinto. Das Frutas Serenadas. Praia ( Cabo Verde ): Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro,
2007, p 44.
.