A psicoterapia sistemática inicial no doente depressivo agudo desenvolve-se com a técnica da psicoterapia cognitivo-comportamental, quase a única forma de psicoterapia sistemática possível. Trata-se, antes de tudo, de corrigir as cognições erradas (ideias, informações e atitudes) do doente sobre si mesmo. A depressão auto-alimenta-se enquanto for fonte de pensamentos e atitudes negativas em torno do eu, do vínculo com o mundo exterior e daquilo que o futuro lhe possa trazer. Assim abundam afirmações deste cariz: "eu sou um inútil", "não conto com ninguém para ajudar-me", " a doença é incurável e o sofrimento não terá fim". O doente automortifica-se pelas três vias seguintes: escassa satisfação de si mesmo, subestimação dos reforços positivos recebidos do exterior e convicção de um futuro fechado.
Para Greden (2003), a terapia cognitiva assenta na terapia da aprendizagem, e é, certamente, um tipo de aprendizagem, na qual há que corrigir os pensamentos distorcidos para normalizar os comportamentos associados à depressão.
A tarefa psicoterapêutica não é fácil nem simples perante este panorama, porque as produções automáticas depressivas são reforçadas pelo próprio doente com raciocínios errados sobretudo na forma de generalizações abusivas, absolutizações ilógicas (vê tudo como definitivo), ampliações ou minimizações pouco razoáveis (avaliações por excesso ou por defeito), pensamento dicotómico ou maniqueísta (divisão das experiências em duas categorias opostas: bom ou mau, falso ou verdadeiro, etc.); personalizações excessivas (estabelecimento de uma relação entre o acontecimento externo negativo e a própria pessoa sem uma base suficiente para isso).
A acção da psicoterapia cognitiva trata de substituir os pensamentos negros sobre o "eu", o ambiente e o futuro por imagens agradáveis e ao mesmo tempo modificar os raciocínios distorcidos. Por isso, o psicoterapeuta cognitivista empenha-se em contribuir para oferecer ao paciente uma informação realista e bem elaborada, preparando-o para não aceitar os pensamentos automáticos (...)
O próprio fundador da terapia cognitiva Aaron Beck (2005), conclui agora, 30 anos depois da sua criação, e apoiando-se na própria experiência e na meta-análise do método, que a terapia cognitivo-comportamental é eficaz nos doentes depressivos para reduzir os sintomas e evitar as recaídas.
À medida que o doente vai recuperando dos seus sintomas, sobretudo quando a acção do medicamento se torna mais activa (...) a psicoterapia adquire um maior êxito (...) na medida em que o terapeuta se encontra com um doente mais propenso a colaborar e a estabelecer conexões com o que o rodeia.
Alonzo-Fernández, Francisco. As quatro dimensões do doente depressivo. Lisboa: Gradiva, 2010, pp 213 - 216.
Nota - A psicoterapia interliga-se com a farmacoterapia, que nesta obra pode ser consultada nas páginas 185 - 209.