08/07/12

" Há falta de entendimento recíproco, como se estivessem - e estão - em mundos distintos. "


A sintonização com o outro alcança a sua figuração máxima na empatia (...), uma espécie de ressonância recíproca, verificando-se sob a forma de um intercâmbio de estímulos e respostas, ou seja, emissão e recepção de mensagens, canalizadas nas três espécies de linguagem humana: linguagem verbal, paraverbal e corporal.
  A redução da intercomunicação individual verbal, paraverbal e corporal, ou seja, mediante a palavra falada ou escrita, os sinais verbais concomitantes e os gestos corporais, estende-se, nos doentes depressivos assintónicos às funções de receptor e emissor, que protagonizam o processo circular definido como um intercâmbio de conteúdos significativos distribuídos em unidades ou mensagens. A comunicação é circular precisamente porque as duas partes alternam entre si nos papéis de emitir e receber. Pois bem, o núcleo da descomunicação depressiva está integrado pela redução simultânea do receber e emitir, do falar e escutar, do gesticular e observar.
(...) A assintonia pessoal conduz irremediavelmente ao bloqueio total ou parcial da intercomunicação humana. (...)O depressivo assintónico fala pouco, muitas vezes espontaneamente quase nada, responde com brevidade ou com monossílabos, e, ao mesmo tempo, tem muita dificuldade em escutar os outros. O diálogo torna-se impossível e tudo o mais que se consegue é uma espécie de "relação de surdos" (...) A linguagem paraverbal, um compêndio das manifestações concomitantes da linguagem falada, mostra-se aparatosamente afectada: o tom de voz mais débil do que suave, às vezes em forma de cochicho; a fluência do discurso, lento ou vacilante e salpicado por pausas de silêncio ou locuções repetidas (...)
A pobreza comunicacional do depressivo, carente da devida sintonia vital, conduz inexoravelmente a uma metacomunicação impregnada de equívocos de ambas as partes, sob a forma de significados enganosos, contraditórios ou simplesmente errados. Há falta de entendimento recíproco, como se estivessem - e estão - em mundos distintos.
(...) A distorção comunicacional induzida pelo pessimismo que invade o mundo depressivo é um dos exemplos mais demonstrativos de um fenómeno muito frequente na sociedade conhecido como catatimia.
  A tendência para se alhear dos amigos e dos familiares, inclusivamente das pessoas mais íntimas, deve-se não só ao propósito de evitar o diálogo impossível, mas também à tentativa de procurar o isolamento espacial. É que a desconexão ambiental do depressivo refere-se também à espacialidade.(...) Deixa-se levar assim por um comportamento global de retraimento social e de refúgio espacial, como se fosse um inimigo mortal do "ruído mundano" (...) O doente depressivo despojado da capacidade de sintonia ambiental ou atmosférica e interpessoal sente-se como um estranho, profundamente isolado e só, possuído por um sentimento de solidão radical e profunda, todavia desejado, como se fosse um refúgio sem entrada nem saída possível. "O depressivo diz Eismann (1984), "sente-se mais só e sofre mais com a sua solidão do que as outras pessoas." Os outros não podem entrar no seu mundo porque não o compreendem e ele renuncia a sair de si mesmo para não se ver acometido por novos sofrimentos.

   Alonso-Fernández, Francisco. As Quatro Dimensões do Doente Depressivo. Lisboa: Gradiva, 2010, pp 48 - 52.
.
.