Desde o momento em que o burguês detém um poder político, está alienado
e toda a categoria… (…) Não se pode ser “muito mais livre”. Ou se é livre ou
não se é livre.(…) É justamente a noção que é preciso tentar definir, que vos
proponho que seja definida. Penso que um burguês que em parte tomou os poderes
que os nobres detinham e os tenta assimilar não é livre; ele detém um poder
sobre os outros, mas deter um poder sobre os outros é, precisamente, a
definição da não liberdade. Se deténs poderes sobre os outros, condena-los a
não serem livres e concomitantemente condenas-te a não seres livre. (…) Se um
homem é livre, isso significa que ele detém um poder, mas este poder não deve
ser, em caso algum, um poder de coerção. Numa sociedade cujos membros não tenham
a possibilidade de se coagirem mutuamente, dado que são todos igualmente
livres, teremos formas de poder que já não são o poder político, burguês ou
socialista, tal como nós o conhecemos. É impossível, pois, que haja então nas
instituições o que quer que seja contra os indivíduos.
Sartre, Jean-Paul. Porquê a Revolta? Lisboa: Sá da Costa Editª, 1975, pp 320 – 321.
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