Em 2008 Ruy Espinheira Filho desloca-se a Portugal para presidir ao Júri do Prémio Camões, o mais importante prémio no âmbito das literaturas de expressão portuguesa (Lisboa, Miradouro de Santa Luzia. Foto: Miúcha ).
" A Musa "
Talvez a amasse muito,
talvez não a amase nada,
talvez amasse somente
seu doce perfil na tarde,
ou só seu vestido branco,
ou só as tranças compridas,
ou apenas o passo leve,
ou somente o jeito esguio,
ou o olhar dissimulado,
ou as suaves sobrancelhas,
ou os seios imaturos,
ou a concha das orelhas,
ou só as mãos delicadas,
ou só os pés pequeninos,
ou as panturrilhas, ou
sua cintura tão fina,
ou... Mas eis que tudo amava,
sobretudo o que não via
do que a cabeça sonhava,
do que a roupa lhe escondia.
Tudo amava, de alma inteira,
até ficar quase morto.
E doido - de cometer
um primeiro verso torto.
Filho, Ruy Espinheira. Elegia de Agosto e outros poemas. Rio de Janeiro: Editª Bertrand Brasil, 2005, pp 177 - 178.
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