" Soneto patético "
Acordo para um mundo novo no jornal.
Notícias junto ao hálito acre da manhã.
Espreguiçadamente explode a realidade.
O sonho se desfaz nas cores do papel.
Refaço o mundo no exercício matinal.
Lavo os dentes, sorrio, a vida fica sã.
Precipito-me às ruas e ganho a cidade.
No trabalho, o refúgio. Da paz desce o véu.
As horas vão... A tarde cinza fica escura.
O dia chega compassadamente ao fim.
A vida, que gritava, agora só murmura.
Tranco-me em casa. O mundo sangra na TV.
O sangue do meu sangue esvai-se, durmo enfim.
E não sei quem te viu. E não sei quem me vê.
Ramos, Luís Antonio Cajazeira. Mais que sempre. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007, p 127.
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