11/08/13



   Poema 3 do Ciclo " Adeuses "


As vozes da sabedoria
são águas pesadas que despertam
sujeiras e chagas onde tocam.
       Pois nos lembram
o que somos,
o que não queremos
ser,
o que não suportamos
ser,
o que nos desespera
de ser,
como o que foi dito há pouco
e mais verdades reveladoras
de que, por exemplo, somos apenas
sombras
e o mais que conseguimos
são mão cheias de trabalho e vento
que passa.

São vozes que ensinam
ninguém se poder saciar
jamais.
       Vozes
que se querem consoladoras,
mas o que nos dizem é que não há
consolo. Como
saber que somos efêmeros
nos consolará? Que somos breves e nunca
fartos,
por mais densa que seja a felicidade
de hoje,
       ainda maior
que a de Salomão em toda a sua
glória,
porque esta felicidade já vivemos e necessitamos
da felicidade de amanhã, do depois
impossível,
pois a vida
já se vai,
se vai.


   Filho, Ruy Espinheira. Elegia de Agosto e outros poemas. Rio de Janeiro: Editª Bertrand Brasil, 2005, pp 130 - 131.
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