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"A cigarra e a formiga"
Tendo a cigarra em cantigas
Folgado todo o verão,
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.
Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha riqueza e brio,
Algum grão com que manter-se
Té voltar o aceso estio.
"Amiga" - diz a cigarra -
"Prometo, à fé de animal.
Pagar-vos antes de agosto
Os juros e o principal."
A formiga nunca empresta
Nunca dá, por isso junta:
"No verão em que lidavas?"
À pedinte ela pergunta.
Responde a outra: " eu cantava
Noite e dia, a toda a hora."
"Oh! Bravo! - torna a formiga -
"Cantavas? Pois dança agora!"
Jean de La Fontaine (Tradução de Bocage), Editora Brasil América,
Rio de Janeiro, 1985.
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