25/05/10

"Cantaste?! Pois agora dança!"

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"A cigarra e a formiga"

Tendo a cigarra em cantigas
Folgado todo o verão,
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.

Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.

Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha riqueza e brio,
Algum grão com que manter-se
Té voltar o aceso estio.

"Amiga" - diz a cigarra -
"Prometo, à fé de animal.
Pagar-vos antes de agosto
Os juros e o principal."

A formiga nunca empresta
Nunca dá, por isso junta:
"No verão em que lidavas?"
À pedinte ela pergunta.

Responde a outra: " eu cantava
Noite e dia, a toda a hora."
"Oh! Bravo! - torna a formiga -
"Cantavas? Pois dança agora!"

Jean de La Fontaine (Tradução de Bocage), Editora Brasil América,
Rio de Janeiro, 1985.
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