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"Depois de Tudo"
Mas era provavelmente
errado desde início o fim
esperado Amor inteiramente
consagrado à dor de querer
explicar o inexplicável sentido
do que não faz sentido
palavras ou actos tanto faz
Era provavelmente absurdo
pensar as razões e não razões
com que digamos sobra sempre
uma razão visível ou perdurável
para a dor da memória ainda quente
Era mais fácil se o que resta fosse
inesgotável e não um resto
para provarmos a única verdade
saber que tudo acaba quando se começa
depois de tudo ser já depois do mundo
Sobra a manifesta verdade
da ternura que quer intermitente
mentir e obedecer à memória cansada
rebentando na escrita
No poema um eco surdo
traz a permanente certeza
o fim da estrada, a certeza errada
António Carlos Cortez in "Depois de Dezembro", Editora Licorne, s/c, 2010, pp 49 - 50.
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