14/05/10

"Era mais fácil se o que resta fosse/ inesgotável e não um resto"

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"Depois de Tudo"

Mas era provavelmente
errado desde início o fim

esperado Amor inteiramente
consagrado à dor de querer

explicar o inexplicável sentido
do que não faz sentido

palavras ou actos tanto faz
Era provavelmente absurdo

pensar as razões e não razões
com que digamos sobra sempre

uma razão visível ou perdurável
para a dor da memória ainda quente

Era mais fácil se o que resta fosse
inesgotável e não um resto

para provarmos a única verdade
saber que tudo acaba quando se começa

depois de tudo ser já depois do mundo
Sobra a manifesta verdade

da ternura que quer intermitente
mentir e obedecer à memória cansada

rebentando na escrita
No poema um eco surdo
traz a permanente certeza

o fim da estrada, a certeza errada

António Carlos Cortez in "Depois de Dezembro", Editora Licorne, s/c, 2010, pp 49 - 50.
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