Herbert Haag, padre dominicano suiço, teólogo católico com um excepcional conhecimento da Bíblia, Professor Emérito da Universidade de Tubinga, nasceu em 1915. Na década de 60 o seu livro "Despedida do Diabo" defende não haver fundamento bíblico para a crença no diabo. Haag foi também um grande defensor do diálogo ecuménico e inter-religioso. As suas posições progressistas levaram a que a Conferência Episcopal Suiça lhe retirasse a confiança, o que não impediu Haag de deixar escrito que morria como católico. Morreu com 86 anos em Lucerna e uma cerimónia de homenagem foi-lhe prestada então, tendo sido presidida pelo próprio Hans Kung.
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"No mundo, não existe nenhuma pessoa investida com semelhantes poderes. Contra uma decisão do Papa não existe qualquer espécie de recurso.
A seguir ao Papa, o segundo órgão constitutivo da Constituição da Igreja "é o bispo que, em comunhão com o presbitério, tem a tarefa de pastorear o rebanho de Deus". Também desta formulação do Concílio Vaticano II é deduzido que "os bispos não podem ser encarados como meros delegados do Papa nas suas dioceses, por estarem investidos num poder directo". Por mais correcta que seja esta interpretação do concílio, no entanto, o que acontece é precisamente o contrário. Hoje, os bispos são cada vez mais funcionários públicos do Vaticano. Não é, por isso, por acaso que o Concílio Vaticano II repete inúmeras vezes serem os bispos sucessores dos apóstolos."
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Herbert Haag in "A Igreja Católica ainda tem futuro?", Notícias Editorial, Lisboa,
2001, p 83.
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"A resposta dá-se rapidamente: a Igreja Católica tem futuro se tiver a coragem e a força de promulgar uma nova Constituição. Ora a nova Constituição, tendo presente o fracasso das anteriores, deverá corresponder a estes três critérios: 1- O princípio de "respeitar a Igreja universal" não poderá ser critério determinante. Os bispos não poderão, assim, ir sempre adiando as reformas urgentes. Cada conferência episcopal é que deve livremente determinar quais são as necessidades prementes da sua região. (...)2- Não deverá existir mais uma Igreja de duas classes sociais: essa estrutura foi criada pela Igreja e, por mais que ela em tempos antigos tivesse razão de ser, actualmente não se justifica a título nenhum. A Igreja já não poderá continuar a ser uma Igreja do clero, terá de se transformar numa comunidade de discípulas e discípulos de Jesus com igualdade de direitos para todos. Não haverá privilégios para homens "consagrados", enquanto os restantes não tiverem os mesmos direitos. Deverá, também, reconhecer igualdade de direitos para homens e mulheres. 3 - A igreja não poderá continuar a ser uma monarquia absoluta, em que uma só pessoa governa a totalidade do mundo católico. Deverá existir um colégio composto de bispos, de homens e de mulheres, representativos de todos os continentes.(...) Estes três critérios levam-nos a concluir pela necessidade inadiável de criar um novo Diireito Canónico orientado pelo Evangelho."
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Herbert Haag, in op. cit., pp 103 - 104.
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