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"Maré Vazia"
É mais o que esqueço quando lembro
Ninguém dá nome a este tempo
imerso em dúvidas
Às perdas sobrevém
(de tanto me esquecer) a tenebrosa
sensação de que invento
a verdade inflamável a odiosa
matéria da mentira em movimento
de palavras até tudo s'esgotar
Confundo-me quando percorro
do esquecimento o mar
em que mergulhei um dia
(o fingimento é a água cujo corpo
sorvo resgatando-me à maré vazia)
António Carlos Cortez in "Depois de Dezembro", Editora Licorne,
s/c., 2010, p 26.
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