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"Calculada melancolia "
De um e do outro tudo sabíamos. O mar,
o rio, se cruzando pelas nossas largas calças,
os brinquedos de lata golpeando a curiosidade,
o primeiro sabor do sangue.
Alguns antecedentes, limalhas de sol, silenciosas ferrugens
que, entre mesas e chávenas de café,
se permutam.
Dessa espécie de som, dessa perdida água,
viviamos os dias, lendo livros, olhando montras,
as belíssimas mulheres que nos cotejavam o olhar, manobrando
ancas, os metálicos lábios como relógios,
detalhes.
Sem um única palavra, calculada melancolia,
comovidos, os corações cambiávamos,
triunfantes.
Jorge Velhote in "HÍFEN - Cadernos Semestrais de Poesia", Nº 2,
Abril/Setembro, 1988, Direcção: Inês Lourenço.
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