12/08/11

" E o rio estropiado de profundidade obscura/ deitado no esquife ainda a tentar escorrer "

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 "Rio Moravé"

Depois da montanha o rio desce das turbinas
começa a entender o ar que respira
e a fugir do sufoco, a libertar um vapor
e a transformar-se na paisagem escura

O rio moribundo cede à inclinação
de vários anos ao relento
reclama árvores nas margens
e fósseis de peixes oxigenados

Os pássaros nos ramos mais afastados
imitam canções de outros pássaros
sobre rios e mensagens esplêndidas
a desaguar numa melopeia occipital

E o rio estropiado de profundidade obscura
deitado no esquife ainda a tentar escorrer
a fingir uma pulsação quando assalta o açude
e a fazer uma espuma azul na rebentação

A destilação do rio é um vapor cáustico
que reaparece como um cadáver espesso de três dias
e imita uma descida como se tivesse nos planos a juventude
de refazer-se nas nuvens e regressar às montanhas

Tiago Patrício in "Cartas de Praga", Clube Português de Artes e Ideias, s/c., 2010, p 57.
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