08/08/11


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      " A Minha Musa "


A minha Musa está longe: dir-se-ia
(é o pensamento dos mais) que nunca existiu.
Se houver porém uma, veste-se com os trapos de um espantalho
posto a custo num xadrez de vinhas.

Abana como pode: resistiu a monções
ficando de pé, só um pouco encurvada.
Se o vento cessa sabe agitar-se ainda
como que a dizer-me caminha sem receio,
logo que te possa ver dar-te-ei vida.

A minha Musa deixou há algum tempo um guarda-roupa
de teatro; e quem com ele se vestia
era da alta sociedade. Um dia foi preenchida
por mim e muito se ufanou. Agora resta-lhe ainda uma manga
e com ela dirige o seu quarteto
de flautas de cana, é a única música que suporto.

  Eugenio Montale in " Poesia ", Assírio & Alvim, Lisboa, 2004,
p 279 ( Tradução de José Manuel de Vasconcelos )
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