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" La belle dame sans merci "
Claro que as gaivotas cantonais esperaram em vão
as migalhas de pão que eu deitava
para a tua varanda para que ouvisses
os seus gritos mesmo fechada no teu sono.
Hoje faltámos ambos ao encontro
e o nosso breakfast gela entre pilhas
para mim de livros inúteis e para ti de não sei
que relíquias: calendários, estojos, frasquinhos e cremes.
Assombroso o teu rosto obstina-se ainda, recortado
nas telas de cal da manhã;
mas uma vida sem asas não o alcança e o seu fogo
sufocado é fulgência de isqueiro.
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Eugenio Montale in " Poesia ", Assírio & Alvim, Lisboa, 2004,
p 257 ( Tradução de José Manuel de Vasconcelos ).
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