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" Despedidas de Verão "
Vou sem pensar na bruma fria, toque ansioso
dos momentos comuns, e de seus prolongamentos,
os sulcos mais fortes da imaginada cálida força.
Relembro as datas, essas longas noites de vigília
que bani. Os vestidos negros ou roxos, o lindo
rosto de voz tranquila. Sem tradução de palavra
gasta me aparece, solidão imposta da quieta
noite do outro. Não espero, porque estudei todas
as ficções e vejo em todo o processo narrativo
o momento poético do mais forte ódio ou daquele
encontro que sempre vem, beneplácito acontecer.
Assim te digo que nada é possível a não ser a
forte presença do olhar, que se foge me esqueço.
Do irremediável aprendi a tranquilidade. E que a
pertença é rigorosamente a grande forma de
separação. Aprendo então os signos da desgraça,
essa malévola intendência do bem-querer afixado.
E contemplo da janela os idos sem complacência
nem pena imerecida. Disto te dou conta para te
mostrar a forte eternidade de cada um.
Maria Alzira Seixo in " Letra da Terra ", Modo de Ler Editores, Porto, 1983, p 36.
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