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Vem ver-me numa noite onde não haja luar, escura, escura,
como breu.
Não quero olhar para ti.
Apenas sentir a tua entrada.
Sentir-te sair para saber que te foste.
E tudo ficar tão escuro que não saiba que a noite jamais se apaga.
Com medo que apareças.
Depois, quero que fales nesse escuro das coisas impensáveis
O que guardaste de mim que me faz falta.
E num instante volver a um tempo outro
Que nunca encontro.
E que não chega para anunciar a tua entrada.
Vem ver-me na curva dos sonhos transfigurados
E verás como sou nada.
E de tudo ser capaz para te pedir
Não faltes!
As ledas pálpebras têm estranhos caminhos.
E eu ceguei ao olhar o dentro.
É tudo tão o mesmo breu...!
Que não me vês
Tal qual um deus.
Morto, na espera das viagens.
Amélia Vieira in " Gabriel ", Cavalo de Ferro Editores, s/c., 2011, p 95.
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