08/11/11

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 " Fulgidez "


Como aves extraviadas
sob o torpor de tanta luz
nossas bocas
unem-se ansiosas,
ardem juntas
num delírio rubro,
ébrias de gemidos,
nuas, alucinadas,
seduzem-se,
perturbam-se,
embriagam-se,
entregam-se ferventes
e enfeitiçadas,
em êxtase bebem
o fragor do lume,
sorvem o ardor
e a cupidez do vinho,
mordem-se
como polpas tenras, sumarentas,
inebriadas,
queimam-se,
ferem-se,
húmidas de tantos beijos,
de fogo tão sequiosas,
chamas convulsas
bruxuleando claras.
E quase morrem calcinadas,
exaustas, loucas, desvairadas,
num frémito de labaredas,
em fogueiras acesas, altas,
transfiguradas -
Serão centelhas vivas, alvoroçadas?
Fúlgidas quimeras abrasadas?

  Gonçalo Salvado in " Ardentia ", Editorial Tágide, 2011, p 15.
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