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" Poema I do Ciclo A Condição do Olhar "
Do que disse um dia me perco agora em redes
de espuma lisa, espera branda de sinal azul de
embaciadas finas recordações de maior dádiva,
esse uso directo. Recortas o aparato redondo da
noite inflexionada em puro reverter, branca aurora
marinha. E a senha. A notação da dor no imponde-
rável acontecer do risco, o traço carregado da pre-
sença, tutela abandonada. Ficada assim na textura
de uma longa toalha branca, suspenso palpitar da
insidiosa hesitação correcta, ó fontes do recurso
deplorável. Em aras deponho pois amável o dis-
curso em tom de fina aceitação e louvando retenho
o entardecer na lonjura exausta das marés, vibra-
ção quente. Se repartes o medo por essa incerteza
do limite, repousado rodeio do movimento, é teu o
verso na mágoa incandescente da manhã, eixo con-
taminado da planície à origem dos meios, ervas
doidas, no solto incandescer do tempo recuado.
Assim os metais se empolgam e impelem o lento
recorrer dos idos na lava dos caminhos. E só os
olhos, latentes, reconhecem.
Maria Alzira Seixo in " Letra da Terra ", Modo de Ler Editores, Porto, 1983, p 83.
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