03/11/11

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No seu posto, um Poeta é ainda aquele que vela, que está atento, que ausculta o coração das coisas em redor e se disponibiliza para interpretá-las, daí, por vezes, o seu não encontro no tempo marcado com muitos dos seus contemporâneos. Para que servem poetas em tempo de indigência? Uma pergunta de Holderlin tão válida hoje como o foi há duzentos anos, como o será porventura no futuro, enquanto o Homem for esta Humanidade. Talvez evitem o despenhar nas costas, os naufrágios abruptos, talvez desviem as rotas das tormentas - Faroleiros Vigilantes - e, se evitarem um que seja, a sua participação já é válida.
(...) Na medida em que a religião existe na ordem etimológica do religar, é necessário saber fazer estas pontes comunicantes que serão bem-vindas para que todos se sentem à mesa da concórdia e do debate fraterno.
(...) O século que aí está pede-nos que o Poeta se ocupe desta memória sob pena de ver destituída a sua função em prol de um divertimento linguístico, que, pese embora a utilíssima maneira de trabalhar a palavra, jamais pode, sob risco de aniquilamento, desligar-se. Metamos mãos nem que seja aos antigos mantras, esconjuremos as chacinas, a indiferença e o desastre. Façamos outras cabanas, convoquemos outros pastores (...).
E, com tudo isto, talvez não tivesse sabido explicar o mais simples: ser original equivale a voltar secretamente à origem. Daí emana o futuro e, o futuro, a sê-lo - porque haverá sempre futuro -, só pode ser, terá de ser, Absolutamente Redentor.

  Amélia Vieira in " Gabriel ", Cavalo de Ferro Editores, s/c., 2011, pp 8 - 9.
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