24/11/11

Inseguranças, vulnerabilidades e comportamentos obsessivos.

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" As técnicas do controlo do corte dos pensamentos (negativos) e do confronto com a realidade "

Começámos a analisar os seus pensamentos. Sandra era uma máquina de fabricar pensamentos negativos e, como temíamos, há anos que o fazia: considerava-se a pior das filhas, a pessoa menos preparada no trabalho, a rapariga mais gorda e feia do seu meio, a menos simpática... e, claro, nada de isto era objectivo.
Quando parecia que avançávamos um pouco, voltava na semana seguinte com novas dúvidas e novos pensamentos negativos. Tivemos de fazer uma paragem no caminho, assinar uma "trégua" e chegar à conclusão de que, nesses momentos, era incapaz de racionalizar dez minutos sem começar a censurar-se por algo; nessas circuntâncias deixámos de trabalhar o "confronto" dos seus diálogos internos e pusemos toda a energia em "parar" e "cortar" os seus pensamentos negativos, que eram a maioria.
É um trabalho pesado e pouco gratificante ao princípio, mas Sandra começou a sentir-se livre quando viu que, ao menos, podia "cortar" com bastante rapidez esses pensamentos que tanto a angustiavam, e além disso, podia fazê-lo tantas vezes quantas eles lhe surgiam. Aprendeu a deixar de ter medo dos próprios pensamentos. Posteriormente, quando já era capaz de cortar esses diálogos internos que tanto a martirizavam, voltámos a tentar que começasse a "racionalizar" os seus pensamentos. Então tivemos mais êxito, ainda que Sandra continuasse a encontrar com muita facilidade argumentos contra ela. Era difícil sentir-se bem se estava sempre a dizer: "Não valho nada" (...) "Toda a minha vida tem sido um desastre", "Sou gorda e feia"... Sandra repetia frases deste estilo desde pequena; nunca gostara de si fisicamente, intelectualmente via-se inapta e lenta (...) Teve de trabalhar muito para poder ultrapassar estes pensamentos irracionais.
Passámos semanas a confrontar, uma a uma, cada frase que proferia interiormente (...).
Não é fácil que alguém tão vulnerável aprenda a deixar de sofrer inutilmente, mas pode-se conseguir, embora o seu cérebro resista, e é lógico que o faça, pois, passou anos a armazenar esses pensamentos contra si. A verdade é que Sandra será sempre um pouco "mais sensível" do que a maioria, mas agora é capaz de desfrutar das coisas positivas que lhe acontecem e, o mais importante, "corta" bastante bem os seus pensamentos irracionais e tem um conceito sobre si própria muito mais adaptado à realidade (...) Por fim, é capaz  de ver-se com objectividade, embora seja demasiado "mole" nas suas apreciações sobre os outros, mas já aprendeu a não justificar o injustificável e, ainda que lhe custe, já exige responsabilidades e pede explicações (...).
A psicologia demonstra-nos que tudo o que se aprende se pode desaprender; tal como nos treinámos para nos sentir mal, podemos treinar-nos para sermos mais realistas e perspectivarmos a vida de forma objectiva.

  María Jesús Álava Reyes in "A inutilidade do sofrimento", A Esfera dos Livros, Lisboa,
2006, pp 120 - 122.
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