30/05/13

 
 
 
     ( Poema 6 do Ciclo Elementos )
 
 
 
 
O que dói não são as roturas, o afastamento,
a incapacidade a minar como um cancro
oculto e certeiro. O que dói não é
a pouca solidez com que se disse
esta ou aquela palavra, esta ou aquela frase;
com que se insistiu, apesar de receios vários,
na grotesca encenação do que se previa
muito aquém de qualquer futuro. O que dói
não é a viscosidade das emoções a grafar-se
em algum mapa antecipadamente condenado,
nem tão-pouco a insistência de uma insolúvel
lembrança a fugir. O que dói verdadeiramente
é acordarmos um dia e descobrirmos
que nada disso teve importância alguma.
 
 
 
   Mateus. Victor Oliveira. Gente Dois Reinos. Fafe: Editora Labirinto, 2013, p 27 ( Prefácio de Inocência Mata, Texto da Contracapa de José Ángel García Caballero).
.
.