26/05/13


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"A Essência do Amor" (To The Wonder) é a mais recente película de Terrence Malick. Realizador americano conhecido por produzir pouco (a sua média estava num filme de sete em sete anos!), Malick tem, contudo, nos últimos tempos, dado ao seu público filmes com uma maior regularidade: "A Árvore da Vida" é de 2011 e está já, neste momento, a trabalhar numa outra obra. O presente filme aborda o encontro de Neil (Ben Affleck), na Europa, com Marina (Olga Kurylenko) que vive em Paris com uma filha de dez anos. Convencida a ir para o Estados Unidos com o companheiro, o casal irá experienciar aí todo um conjunto de situações, emoções e sentimentos, que justificam e fundamentam o título do filme. Após o fracasso desta estória amorosa, e do regresso de Marina a Paris, Neil envolve-se com uma antiga namorada (Rachel McAdams), mas súbito toma conhecimento do regresso de Marina aos Estados Unidos para se encontrar com outro alguém e o filme acaba exactamente aqui: um final aberto que nos deixa entrever que a estória de Marina e Neil, como todas as estórias de amor pleno (veja-se o título em português variante brasileira!), não está afinal definitivamente escrita... Fundamentalmente dicotómico o amor humano apresenta-se como um caminho de felicidade/sofrimento, alegria/dor, certezas/ dúvidas, arrebatamentos/ hesitações, etc, etc. A Essência do Amor não nos é dada a priori, o ser humano terá de a apreender e de a trabalhar em si através de um caminho muitas vezes agreste! Mas a estória deste amor humano entrecruza-se com uma outra relacionada com o amor divino, já que o padre da localidade deste casal (Javier Bardem) atravessa exactamente as mesma hesitações e a mesma dor em relação à matéria da sua crença - Deus.
 O tema central deste filme é, por conseguinte, uma reflexão cuidada e pormenorizada em torno do Amor, em torno de Deus e em torno dos momentos em que estas duas instâncias se interpenetram: "Deus não nos dá o que queremos mas aquilo de que, em dado momento, precisamos", diz uma das personagens. É igualmente uma reflexão que se processa através de uma narração fragmentada em que que a estória está constantemente a sofrer avanços e recuos; um filme também repleto de longos silêncios e de uma beleza e de uma poeticidade raras no cinema dos último anos. O quadro apresentado é de tal modo portentoso que nada é deixado ao acaso: a belíssima música de Hanan Townshend, a fotografia, os diálogos e/ou monólogos em quatro línguas (inglês, francês, espanhol e italiano), a beleza e autenticidade das expressões, sobretudo as faciais, a fazerem-me lembrar o melhor de Bergman, de Duras e até o "Paixão" de Godard ou o "As Asas do Desejo" de Wim Wenders - a alma destas personagens está-lhes constantemente inscrita no rosto, nos passos, nos olhos. Uma obra-prima!!!
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