25/05/13
" Balada do Belas-Artes "
Sobre o mármore das mesas
do Café Belas-Artes
os problemas se resolviam
como em passe de mágica.
Não que as leis do real
se abolissem de todo
mas ali dentro Curitiba
era quase Paris:
O verso vinha fácil
o conto tinha graça
a música se compunha
o quadro se pintava.
Doía muito menos
a dor-de-cotovelo,
nem chegava a incomodar
a falta de dinheiro.
Para o sedento havia
um copo de água fresca,
média pão e manteiga
consolavam o faminto.
Não se desfazia nunca
a roda de amigos;
o tempo congelara-se
no seu melhor minuto.
Um dia foi fechado
o Café Belas-Artes
e os amigos não acharam
outro lugar de encontro.
Talvez porque já não tivessem
(adeus Paris adeus)
mais razões de encontrar-se
mais nada a se dizer.
Paes, José Paulo. Prosas seguidas de Odes Mínimas. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, pp 45 - 46.
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